sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Quanto Portugal pagou pelo Nordeste aos holandeses

Reparações? Veja quanto Portugal pagou para retomar o Nordeste, mesmo os brasileiros tendo vencido os holandeses.O negócio do Brasil”

Como Portugal comprou o Nordeste dos holandeses R$ 3 bilhões

Em livro relançado, historiador brasileiro diz que lusitanos pagaram o equivalente a 63 toneladas de ouro para ter região de volta mesmo depois de derrotar holandeses no século 17.


O Negocio do Brasil



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Quadro do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima retrata Batalha dos Guararapes (1648/1649), que encerrou período do domínio holandês no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)

Mesmo depois de terem sido derrotados, os holandeses receberam dos portugueses o equivalente a R$ 3 bilhões em valores atuais para devolver o Nordeste ao controle lusitano no século 17.

O pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63 toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro "O negócio do Brasil", que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.

Em valores atuais, o montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões). O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e co-fundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o poder de compra do dinheiro ao longo da história.

"Esta foi a solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.

'Pechincha'

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Bandeira da Nova Holanda, como ficou conhecida a colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)

Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654, em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco tempo.

Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e comercialização da matéria-prima.

Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de Portugal, processando e refinando a cana de açúcar brasileira.

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Gravura holandesa retrata o cerco a Olinda em 1630 (Foto: BBC)

"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol em 1581", diz o historiador.

Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas, principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau.

Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas", Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a voltar à Europa em 1644.

'Sem heroísmo'

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Quadro do pintor espanhol Juan Bautista Maíno retrata reconquista de Salvador pelas tropas hispano-portuguesas (1635) (Foto: BBC)

Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou para enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro de 1654.

Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses, índios e negros "não é completa".

"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais, que lhe havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a dívida", explica o historiador.

"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a correspondência para o metal precioso".

"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados aos holandeses. Também fez parte do acordo a transferência do controle de duas possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o monopólio do comércio do Sal de Setúbal".

Luís Guilherme Barrucho Da BBC Brasil em Londres 12/10/2015

domingo, 17 de setembro de 2017

Os dois Brasis


A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.

Os dois Brasis

Escritor Luiz Ruffato causou grande estardalhaço ao focar no que o Brasil tem de pior em sua apresentação na Feira do Livro de Frankfurt de 2013, evento que se propunha a promover o país.


Os dois BrasisO mineiro Luiz Ruffato não poupou críticas ao Brasil na Feira do Livro de Frankfurt (Reprodução/DWL.Frey)

Na semana passada encerrou-se a Feira de Livros de Frankfurt, maior evento mundial do mercado editorial e ponto de encontro para negócios relacionados às editoras de todos os continentes.

Como o Brasil foi o país homenageado em 2013, o que tinha ocorrido antes somente em 1994, tivemos o direito de discursar no evento inaugural, cabendo a tarefa, entre os 70 escritores brasileiros convidados, ao mineiro Luiz Ruffato. Estando presentes autoridades alemães e brasileiras, aí incluídos o vice-presidente da república e a ministra da cultura, houve um grande estardalhaço com o teor da apresentação.

Normalmente, seria de se esperar que um brasileiro em evento que se propõe a promover o Brasil, falasse bem do país, pois poucos no exterior acreditam que, em termos de cultura, haja qualquer coisa no Brasil além de samba e futebol, para não descermos ao nível mais baixo dos atributos físicos das mulatas.

Ruffato inicia definindo o Brasil como um país dominado monetariamente pelo capitalismo selvagem, em todos os seus significados. Também expõe dados sociais e os compara com indicadores globais, conforme a seguir:

1.    A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.

2.    O índice de assassinatos no país: Ruffato destaca a alta taxa de homicídios no Brasil, que chega a de 20 assassinatos por 100 mil habitantes, o que equivale a aproximadamente 37 mil pessoas mortas por ano, considerando a população brasileira – número três vezes maior do que a média mundial. A explicação poderia ter raízes históricas, e o escritor invoca a constituição do povo brasileiro, marcada pelo extermínio dos povos indígenas: eram 4 milhões de indígenas na época do descobrimento do Brasil, e hoje restam cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades.

3.    Violência contra mulheres e crianças: o autor ressalta que o Brasil ocupa o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas, ao passo que em 2012 foram registradas mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Ruffato lembra ainda que estes números são sempre subestimados, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, por diversas questões, muitas vezes familiares.

4.    O problema do analfabetismo: ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo, já que 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais, ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

5.    Mercado editorial brasileiro: este mercado movimenta anualmente em torno de U$S 2,2 bilhões, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas às bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Todavia, o escritor não deixa de relatar pontos positivos: a maior vitória de sua geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos,  trata-se do período mais extenso de vigência do Estado Democrático de Direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. A implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou até mesmo os de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas, também seriam pontos positivos a serem destacados.

Por fim, sem esquecer dos problemas estruturais diários, o escritor lembra que continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

O sociólogo francês Jacques Lambert publicou na década de 50 o clássico ensaio Os dois Brasis, onde denunciava a dicotomia da pobreza convivendo com alguma modernidade e avanço. Em outro momento, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia, para denominar o Brasil como um misto de Bélgica desenvolvida com a outrora Índia muito pobre, antes de entrar para os BRICs. Deveria Luiz Ruffato ter mostrado também um Brasil melhor?

Paulo Gurgel Valente

Fonte Opinião e Política

18 out, 2013

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Ocorrência de Cocaína em Múmias Egípcias

ARTIGO CIENTÍFICO RECENTÍSSIMO:

A Ocorrência de Cocaína em Múmias Egípcias - Nova pesquisa fornece evidências fortes para uma dispersão transatlântica por humanos


Mumia Helmut

Crâneo mumificado de Henut Taui

Dominique Görlitz - Técnica da Universidade de Dresden, Instituto de Cartografia, Alemanha (recebido em 22 de maio de 2016, aceito em 29 de junho de 2016)

Resumo:

Mumia exposta

Um dos problemas não resolvidos da ciência moderna é se os povos pré-colombianos do Novo Mundo desenvolveram-se completamente independentemente das influências culturais do Velho Mundo ou se já existia um contato transoceânico? Alguns cientistas concordam que há muitos - e muitas vezes notáveis ​​- semelhanças entre as culturas da América pré-colombiana e as da Mundo Mediterrâneo. No entanto, ainda não existe acordo sobre como a difusão cultural pode ter diferenciado de invenção independente. A análise científica mostra que as posições acadêmicas são muitas vezes fortemente pré-formadas por paradigmas (pressupostos baseados em ciência), que tendem a dificultar a consideração de dados científicos sólidos oferecidos pela geo-biologia e seu exame transdisciplinar do assunto sob investigação aqui.



Uma resposta inequívoca à questão, que processos históricos levaram ao surgimento da antiga agricultura das Américas, não foi dada. No entanto, a descoberta arqueológica de culturas
com clara origem transoceânica, além de avanços em biologia molecular, cada vez mais apoia a hipótese de que os seres humanos do passado distante se influenciaram entre os oceanos em um estágio anterior. A vegetação e o jardim zoológico geográfico indicam, por vários exemplos que algumas espécies
só poderiam ter se espalhado através de uma transmissão humana não intencional (passiva).

Coca


Existem duas culturas muito antigas encontradas no "Novo Mundo", que contradizem o paradigma de uma origem completamente independente para a agricultura americana. Estas são as Espécies de Abóbora Africana (Lagenaria siceraria L.) e as espécies de algodão ancestral (Gossypium herbaceum L.) do Sub-gênero domesticado giratório de algodão tetraploídico. A disseminação histórica de ambos os tipos está em discussão há décadas, especialmente em relação ao contato humano transoceânico com o Continente Americano. Também houve um debate no "Velho Mundo" desde a descoberta de nicotina e cocaína em múmias egípcias, centradas em torno de plantas de "Novo Mundo" (ou ingredientes) podem ter sido transmitidos no sentido inverso, de volta ao começo presumido em centros das antigas civilizações do mundo antigo.

Este artigo é baseado em extratos da tese de doutoramento do escritor de cuja pesquisa continua a o trabalho da Dra. Svetlana Balabanova sobre esse tema muito disputado de cocaína em múmias egípcias.


Mumia


CONCLUSÃO:

A história de propagação e domesticação da planta de coca fornece evidências marcantes para a teoria de dispersão antropogênica desta espécie em todo o Atlântico nos tempos antigos. O fitoquímico exclusivo característico desta planta, seu padrão de distribuição no hemisférica sul e sua água limitada. A capacidade de dispersão das plantas de cultivo (cocaína e tabaco, figura 5) apoia esta teoria. o reconstrução das rotas de dispersão e identificação dos comerciantes proto-históricos envolvido em tais contatos, representa um desafio fascinante para futuras pesquisas.


Barco egpicios

O comércio transoceânico pré-histórico parece ser muito mais antigo do que o aceito e publicado na literatura predominante. Foi um fator decisivo no desenvolvimento das primeiras civilizações avançadas. Novas descobertas de grandes "pirâmides de passo" semelhantes em arquitetura àquelas no Mediterrâneo, bem como sobre as ilhas Canárias e até mesmo um naufrágio fenício dos Açores, vão enfatizando a intensidade e a importância das atividades transatlânticas no final do Neolítico. O enigma da ocorrência de cocaína nas múmias egípcias não é capaz de revelar todos os aspectos dessas interações transatlânticas entre o Velho e o Novo Mundo, mas as bioevidências sugerem fortemente contatos regulares transoceânicos muito antes dos dias de Colombo. A descoberta de nicotina e cocaína proporciona mais evidências quanto ao pressuposto de que a cosmopolização e o internacionalismo é muito mais antigo, e faz parte do nosso rico patrimônio marítimo. Assim, as embarcações pré-históricas foram a primeira ferramenta principal do homem para explorar e conquistar o mundo.

Fonte:

http://www.qucosa.de/…/docume…/21438/diff_fund_26(2016)2.pdf

Por Fábio Henrique

Cientista político, sociólogo, tradutor, escritor.


Fábio perfil

fhsouzasilva@hotmail.com