terça-feira, 12 de março de 2024

O Samba e a Pandemia

 2021 O ano em que o Samba Parou

De Sara Negriti e Tadeu Kaçula

Recebi pelo Correio enviado por Sara Negriti (privilégio de ancião, idoso com mais de 75 anos). Hiper, super interessado, como se comportou o Samba quando o Mundo parou?

Comparar as experiências, perante o isolamento voluntário e depois compulsório durante a Pandemia. Minha companheira esposa, e eu tomamos medidas radicais, em vez de tomar sol pela janela em São Paulo, com duas mochilas, mudamos para a Baixada Santista. 

Abandonei 57 anos de acolhimento em Sampa, cheguei no final de 1963, no dia 1o. de abril de 1964 começava a Ditadura Militar. Com 17 anos ia começar a ter a liberdade de maior. Fecharam tudo, todos os sonhos ruíram.

Nas 200 páginas do excelente livro, encontro ecos da minha experiência, uma multiplicidade de entrevistas, trabalho hercúleo e entusiasta dos jovens autores. As entrevistas com depoimentos de quem criança viveu, ou ouviu de seus pais e avós, traz recortes de realidades diferenciadas.

Um todo cuidado dos entrevistadores de não manipular, mas em momentos chaves, lançar perguntas às vezes reflexivas.

Quando vi o livro, com uma capa muito bem elaborada, questionei 200 páginas de conteúdo, quem nessa época de internet, lê um texto grande? Eu devorei, li, folheei (irei reler), de uma assentada. 

Minha geração fazia isso, quando o assunto era empolgante. De forma leve, sem jargões acadêmicos, um texto, envolvente, conversa de pé de ouvido.

Nesses dias na internet, um texto com mais de 5 linhas, vem a expressão: "Lá vem textão!", vídeos acima de 3 minutos são desprezados. Um banho de boa leitura.

Vou reler com calma, há referências nos depoimentos (minha memória aos 77 anos não é mais a mesma), onde minha percepção de realidade tem de ser avaliada. 

Vivi ou mantive contato com personagens citados: Seu Nenê de Vila Matilde, seu filho Betinho, Ciro Nascimento meu guru, Talismã, Geraldo Filme no Paulistano da Glória. Era lá a reunião da estudantada, saída da Dr. Vilanova e arredores onde os prédios das Faculdades que formariam o futuro Campus da USP que seria inaugurado, se uniam aos bambas da noite paulistana.

No Vai Vai, perto onde morava, conheci o lendário Pé Rachado, Chiclé, Raquel e Liberto Trindade.

Um Livro para ler e saborear cada história de vida. Parabéns e Obrigado Sara e Tadeu . 

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Revolta da Chibata o Filme

Revolta da Chibata

Maestro Laércio de Freitas, intérprete de João Cândido no MIS Revolta da Chibata Vagner representante da equipe do diretor Marcos Manhães Marins.
A interpretação do Maestro Laércio de Freitas é emocionante como João Cândido no seu depoimento no MIS em março de 1968 aos 87 anos. Ver o ator com sua família e netos, nos insere no universo de criação excepcional do roteirista e diretor Marcos Manhães Marins. Da Revolta da Chibata, aos acontecimentos do Golpe de 1964, repressão política da Ditadura Militar até a Chacina da Candelária no Rio em 1993. Fantástico e um desejo de ver novamente e discutir nossa realidade.
Numa época do Massacre de Paraisópolis em São Paulo. Fundamental divulgar por toda a periferia e sociedade civil. Hora de apoiarmos o projeto de um longa metragem. Muito obrigado ao diretor  Marcos Manhães Marins e sua equipe. Somamos juntos!
Fotos Hugo Ferreira Zambukaki do Coletivo Catorze de Maio
 




sábado, 2 de junho de 2018

Síndrome da falta de percepção de identidade étnica…

Síndrome da falta de percepção de identidade étnica, ou dividir colorindo

Retintos, pouca tintas, afro-off White, Boçais, ladinos e crioulos

“Ou a ideologia da dominação dividir colorindo. ”

Nos anos sessenta era básico, passou das seis é boa noite. Creio que existe até hoje para as classes sociais dominantes. Há pouco vi enorme discussão sobre o nariz de um bebê, e discussões sobre “misturas”.

Somos um país com multiplicidade de culturas e misturas raciais ou étnicas. Desde Pindorama o choque cultural, entre “Jês-Tapuias” e “Tupis-Guaranis” na sua migração nos anos 1000 vindos do norte Guianas ou Caribe. Uns como a Luzia com fortes características africanas ou aborígenes (Oceania) outros com pele mais clara, e até hoje encontramos nas ruas de São Paulo, índios (guaranis?) com cabelos ruivos e aloirados. Caso de índios loiros, de pele clara e olhos claros são os Chachapoyas no Norte do Peru.


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Família Chachapoya John de Nugent

Dizem serem cor de pele e olhos, apenas 5% do DNA humano, há os louros das ilhas Salomão, com DNA diferente dos cabelos louros dos europeus.

E os povos Bérberes do norte da África? Povo autóctone (nativo) e ancestral, tem pele e olhos claros. Uns ruivos, loiros e de olhos azuis. Nas Ilhas Canárias ocorreu o Primeiro Genocídio na África, os guanches (bérberes das Canárias) escravizados desde 1363 pelos portugueses, que os levavam para as ilhas dos Açores, Madeira e Portugal, os homens foram escravizados, mortos pelos espanhóis por volta de 1450 e 1465. As mulheres usadas pelos europeus para reprodução, o Padre José de Anchieta era filho de mãe Guanche.

Guanche de Juan Carlos Moura

Guanche de Juan Carlos Mora

O que falar da colonização Moura da Península Ibérica, França, e Itália. As invasões iniciadas por Al Tárique em 752, mouro berbere africano iniciou o Al-Andaluz, o estado islâmico civilizatório e tolerante derrubado só em 1492 pelas Cruzadas da Guerra chamada Reconquista.

Queen-Charlotte

Rainha Charlotte por Allan Ramsay, 1761

A classe dominante era moura africana, reis, rainhas, príncipes e princesas. Casas reais casavam-se entre si, com o casamento real na Inglaterra, levantou-se as origens da Rainha Charlotte da Inglaterra 1738 /1820, alemã de nascimento e descendente da Casa Real Portuguesa. Foi a primeira rainha negra da Inglaterra? Depois da 5ª geração aparecem se traços e características afros, devemos considerar a pessoa como mulata, multirracial?

Questiono por quê, agora com as cotas afirmativas há como se falava antigamente um patrulhamento sobre quem é ou não negro preto.

E vem uma enxurrada de ofensas, insinuações e calúnias. Afrobege, afro-oportunistas, poucas tintas e por aí vai...

Não é coisa nova o dividir para reinar, tática colonial de conquista, com pouca população Portugal e Espanha (os pioneiros das invasões), jogavam um grupo contra o outro, só assim conquistaram, nas Canárias, México, Peru, e Brasil.

Para o historiador Eduardo Silva, "a escravidão não funcionou e se reproduziu baseada apenas na força. O combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e fora dele, se fez através de uma combinação de violência com a negociação, do chicote com a recompensa."

Na época da escravidão classificavam em grupos com funções diferentes para desunidos lutarem entre si. Mais que os negros da Casa Grande, da Senzala e os dos Quilombos.

Cirioulo na mesa

“Os escravos chamados "boçais", recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos trabalhos da lavoura. Havia também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os mestres-de-açúcar, os ferreiros, e outros distinguidos pelo senhor de engenho. Chamava-se de crioulo o escravo nascido no Brasil. Geralmente dava-se preferência aos mulatos para as tarefas domésticas, artesanais e de supervisão, deixando aos de cor mais escura, geralmente os africanos, os trabalhos mais pesados. ”

Tipos de escravos

O Quilombo unificava a luta, liberdade para quem lutava por ela.

Nossas conquistas começaram à serem efetuadas publicamente, no dia 7 de julho de 1978, fomos às escadas do Teatro Municipal, iniciado como “Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial” era uma Frente contra a discriminação, o racismo, a violência policial que matava negros. Ativistas, entidades, de toda a sociedade assumiram a luta. Era uma luta da Sociedade.

Negro era o descendente de africanos, que assumia a luta contra o preconceito, racismo, e pela cidadania plena. Diferenças de cor, tonalidade, se uniam na hora da luta, importava se você lutava, e o seu lado.


Referências:

https://zambukaki.blogspot.com/2018/05/a-primeira-rainha-negra-da-inglaterra.html

https://en.wikipedia.org/wiki/Charlotte_of_Mecklenburg-Strelitz#Claims_of_African_ancestry


https://www.gamespot.com/forums/offtopic-discussion-314159273/can-a-white-man-have-an-afro-29371459/

https://www.theguardian.com/world/2009/mar/12/race-monarchy

http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/escr_conflito.html

quinta-feira, 31 de maio de 2018

A primeira rainha negra da Inglaterra?


Passado o frenesi do casamento real na Inglaterra, volto à um ponto interessante, não sobre a magia de casar com príncipes, princesas, reis, rainhas...

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o Príncipe Harry e Meghan Markle

Mas referente à declaração racial da agora condessa a atriz Meghan Markle, de pai branco e mãe negra, ela se declara biracial nos Estados Unidos.

Meeghan e pai

Thomas Markle com Meghan Markle criança

Cá nesse Brasil após as cotas afirmativas, foram as mais variadas declarações, mas o tema central foi: “Não é negra, olhe os traços finos, fez plástica de rinoplastia, clareou a pele, quando criança era diferente, é palmiteira”. Não vou comentar, pois muita gente já fez isso. Há a forma como você se vê, há a maneira como os outros lhe veem, e o que você realmente é ou significa na sociedade. Até quando um descendente de africanos, conserva sua origem? O que vale o conceito brasileiro uma gota de sangue branco, branco. Ou conceito europeu, uma gota de sangue negro, negro.

Mãe no casamento

Doria Ragland mãe de Meghan Markle

Vou citar algo diferente, e se ela não se afirmasse como biracial? Com uma mãe presente no casamento com um chapéu (ah os chapéus de casamentos...) que remete as boinas dos militantes do Partido dos Panteras Negras. Não vou questionar essa possibilidade, vou mergulhar na história da família real inglesa.

Queen-Charlotte    

Carlota  - Por Esther Denner, 1761


A rainha Shophie Charlotte de Mecklenburg-Strelitz, (19 de maio de 1744 - 17 de novembro de 1818) foi uma rainha britânica consorte e esposa do rei George III da Inglaterra. Seu marido o rei George III era o rei quando houve a Guerra de Independência dos Estados Unidos, depois foi declarado louco e afastado do trono. A Rainha Charlotte é a avó da Rainha Vitória a grande Imperatriz do então poderoso Império Britânico.


Rainha Charlotte por Allan Ramsay , 1761

Rainha Charlotte por Allan Ramsay , 1761

A Rainha Charlotte, alemã de nascimento, teve ainda em vida cobranças de suas origens africanas, declarações de seus súditos, quadros com suas feições africanas suavizadas ou acentuadas por artistas. E de onde viriam essas origens africanas?

Sophie Charlotte descendia diretamente de um ramo africano da Casa Real Portuguesa, Margarita de Castro y Sousa. Seis linhas diferentes podem ser traçadas desde a Princesa Sophie Charlotte até Margarita de Castro e Sousa. Durante quase setecentos anos a Península Ibérica, foi dominada e colonizada por mouros africanos. Esses era os reis, rainhas, príncipes, princesas e nobres. A primeira rainha negra da Inglaterra?

A Rainha Charlotte era cobrada por sua descendência, de cinco ou seis ancestrais africanos. Os mouros são os culpados?

Eles invadiram, a Espanha, Portugal, França, Itália...

Hugo Ferreira Zambukaki


Para saber mais sobre a polêmica:

Meet Sophia Charlotte, the First Black Queen of England  - http://atlantablackstar.com/2015/10/14/meet-sophia-charlotte-first-black-queen-england/

Carlota de Mecklemburgo-Strelitz

https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlota_de_Mecklemburgo-Strelitz

Queen Charlotte: Was She the First Black English Queen?

https://heavy.com/news/2018/05/queen-charlotte-black-african-mixed-race/

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Quanto Portugal pagou pelo Nordeste aos holandeses

Reparações? Veja quanto Portugal pagou para retomar o Nordeste, mesmo os brasileiros tendo vencido os holandeses.O negócio do Brasil”

Como Portugal comprou o Nordeste dos holandeses R$ 3 bilhões

Em livro relançado, historiador brasileiro diz que lusitanos pagaram o equivalente a 63 toneladas de ouro para ter região de volta mesmo depois de derrotar holandeses no século 17.


O Negocio do Brasil



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Quadro do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima retrata Batalha dos Guararapes (1648/1649), que encerrou período do domínio holandês no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)

Mesmo depois de terem sido derrotados, os holandeses receberam dos portugueses o equivalente a R$ 3 bilhões em valores atuais para devolver o Nordeste ao controle lusitano no século 17.

O pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63 toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro "O negócio do Brasil", que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.

Em valores atuais, o montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões). O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e co-fundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o poder de compra do dinheiro ao longo da história.

"Esta foi a solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.

'Pechincha'

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Bandeira da Nova Holanda, como ficou conhecida a colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)

Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654, em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco tempo.

Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e comercialização da matéria-prima.

Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de Portugal, processando e refinando a cana de açúcar brasileira.

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Gravura holandesa retrata o cerco a Olinda em 1630 (Foto: BBC)

"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol em 1581", diz o historiador.

Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas, principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau.

Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas", Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a voltar à Europa em 1644.

'Sem heroísmo'

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Quadro do pintor espanhol Juan Bautista Maíno retrata reconquista de Salvador pelas tropas hispano-portuguesas (1635) (Foto: BBC)

Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou para enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro de 1654.

Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses, índios e negros "não é completa".

"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais, que lhe havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a dívida", explica o historiador.

"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a correspondência para o metal precioso".

"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados aos holandeses. Também fez parte do acordo a transferência do controle de duas possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o monopólio do comércio do Sal de Setúbal".

Luís Guilherme Barrucho Da BBC Brasil em Londres 12/10/2015

domingo, 17 de setembro de 2017

Os dois Brasis


A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.

Os dois Brasis

Escritor Luiz Ruffato causou grande estardalhaço ao focar no que o Brasil tem de pior em sua apresentação na Feira do Livro de Frankfurt de 2013, evento que se propunha a promover o país.


Os dois BrasisO mineiro Luiz Ruffato não poupou críticas ao Brasil na Feira do Livro de Frankfurt (Reprodução/DWL.Frey)

Na semana passada encerrou-se a Feira de Livros de Frankfurt, maior evento mundial do mercado editorial e ponto de encontro para negócios relacionados às editoras de todos os continentes.

Como o Brasil foi o país homenageado em 2013, o que tinha ocorrido antes somente em 1994, tivemos o direito de discursar no evento inaugural, cabendo a tarefa, entre os 70 escritores brasileiros convidados, ao mineiro Luiz Ruffato. Estando presentes autoridades alemães e brasileiras, aí incluídos o vice-presidente da república e a ministra da cultura, houve um grande estardalhaço com o teor da apresentação.

Normalmente, seria de se esperar que um brasileiro em evento que se propõe a promover o Brasil, falasse bem do país, pois poucos no exterior acreditam que, em termos de cultura, haja qualquer coisa no Brasil além de samba e futebol, para não descermos ao nível mais baixo dos atributos físicos das mulatas.

Ruffato inicia definindo o Brasil como um país dominado monetariamente pelo capitalismo selvagem, em todos os seus significados. Também expõe dados sociais e os compara com indicadores globais, conforme a seguir:

1.    A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.

2.    O índice de assassinatos no país: Ruffato destaca a alta taxa de homicídios no Brasil, que chega a de 20 assassinatos por 100 mil habitantes, o que equivale a aproximadamente 37 mil pessoas mortas por ano, considerando a população brasileira – número três vezes maior do que a média mundial. A explicação poderia ter raízes históricas, e o escritor invoca a constituição do povo brasileiro, marcada pelo extermínio dos povos indígenas: eram 4 milhões de indígenas na época do descobrimento do Brasil, e hoje restam cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades.

3.    Violência contra mulheres e crianças: o autor ressalta que o Brasil ocupa o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas, ao passo que em 2012 foram registradas mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Ruffato lembra ainda que estes números são sempre subestimados, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, por diversas questões, muitas vezes familiares.

4.    O problema do analfabetismo: ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo, já que 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais, ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

5.    Mercado editorial brasileiro: este mercado movimenta anualmente em torno de U$S 2,2 bilhões, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas às bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Todavia, o escritor não deixa de relatar pontos positivos: a maior vitória de sua geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos,  trata-se do período mais extenso de vigência do Estado Democrático de Direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. A implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou até mesmo os de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas, também seriam pontos positivos a serem destacados.

Por fim, sem esquecer dos problemas estruturais diários, o escritor lembra que continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

O sociólogo francês Jacques Lambert publicou na década de 50 o clássico ensaio Os dois Brasis, onde denunciava a dicotomia da pobreza convivendo com alguma modernidade e avanço. Em outro momento, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia, para denominar o Brasil como um misto de Bélgica desenvolvida com a outrora Índia muito pobre, antes de entrar para os BRICs. Deveria Luiz Ruffato ter mostrado também um Brasil melhor?

Paulo Gurgel Valente

Fonte Opinião e Política

18 out, 2013

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Ocorrência de Cocaína em Múmias Egípcias

ARTIGO CIENTÍFICO RECENTÍSSIMO:

A Ocorrência de Cocaína em Múmias Egípcias - Nova pesquisa fornece evidências fortes para uma dispersão transatlântica por humanos


Mumia Helmut

Crâneo mumificado de Henut Taui

Dominique Görlitz - Técnica da Universidade de Dresden, Instituto de Cartografia, Alemanha (recebido em 22 de maio de 2016, aceito em 29 de junho de 2016)

Resumo:

Mumia exposta

Um dos problemas não resolvidos da ciência moderna é se os povos pré-colombianos do Novo Mundo desenvolveram-se completamente independentemente das influências culturais do Velho Mundo ou se já existia um contato transoceânico? Alguns cientistas concordam que há muitos - e muitas vezes notáveis ​​- semelhanças entre as culturas da América pré-colombiana e as da Mundo Mediterrâneo. No entanto, ainda não existe acordo sobre como a difusão cultural pode ter diferenciado de invenção independente. A análise científica mostra que as posições acadêmicas são muitas vezes fortemente pré-formadas por paradigmas (pressupostos baseados em ciência), que tendem a dificultar a consideração de dados científicos sólidos oferecidos pela geo-biologia e seu exame transdisciplinar do assunto sob investigação aqui.



Uma resposta inequívoca à questão, que processos históricos levaram ao surgimento da antiga agricultura das Américas, não foi dada. No entanto, a descoberta arqueológica de culturas
com clara origem transoceânica, além de avanços em biologia molecular, cada vez mais apoia a hipótese de que os seres humanos do passado distante se influenciaram entre os oceanos em um estágio anterior. A vegetação e o jardim zoológico geográfico indicam, por vários exemplos que algumas espécies
só poderiam ter se espalhado através de uma transmissão humana não intencional (passiva).

Coca


Existem duas culturas muito antigas encontradas no "Novo Mundo", que contradizem o paradigma de uma origem completamente independente para a agricultura americana. Estas são as Espécies de Abóbora Africana (Lagenaria siceraria L.) e as espécies de algodão ancestral (Gossypium herbaceum L.) do Sub-gênero domesticado giratório de algodão tetraploídico. A disseminação histórica de ambos os tipos está em discussão há décadas, especialmente em relação ao contato humano transoceânico com o Continente Americano. Também houve um debate no "Velho Mundo" desde a descoberta de nicotina e cocaína em múmias egípcias, centradas em torno de plantas de "Novo Mundo" (ou ingredientes) podem ter sido transmitidos no sentido inverso, de volta ao começo presumido em centros das antigas civilizações do mundo antigo.

Este artigo é baseado em extratos da tese de doutoramento do escritor de cuja pesquisa continua a o trabalho da Dra. Svetlana Balabanova sobre esse tema muito disputado de cocaína em múmias egípcias.


Mumia


CONCLUSÃO:

A história de propagação e domesticação da planta de coca fornece evidências marcantes para a teoria de dispersão antropogênica desta espécie em todo o Atlântico nos tempos antigos. O fitoquímico exclusivo característico desta planta, seu padrão de distribuição no hemisférica sul e sua água limitada. A capacidade de dispersão das plantas de cultivo (cocaína e tabaco, figura 5) apoia esta teoria. o reconstrução das rotas de dispersão e identificação dos comerciantes proto-históricos envolvido em tais contatos, representa um desafio fascinante para futuras pesquisas.


Barco egpicios

O comércio transoceânico pré-histórico parece ser muito mais antigo do que o aceito e publicado na literatura predominante. Foi um fator decisivo no desenvolvimento das primeiras civilizações avançadas. Novas descobertas de grandes "pirâmides de passo" semelhantes em arquitetura àquelas no Mediterrâneo, bem como sobre as ilhas Canárias e até mesmo um naufrágio fenício dos Açores, vão enfatizando a intensidade e a importância das atividades transatlânticas no final do Neolítico. O enigma da ocorrência de cocaína nas múmias egípcias não é capaz de revelar todos os aspectos dessas interações transatlânticas entre o Velho e o Novo Mundo, mas as bioevidências sugerem fortemente contatos regulares transoceânicos muito antes dos dias de Colombo. A descoberta de nicotina e cocaína proporciona mais evidências quanto ao pressuposto de que a cosmopolização e o internacionalismo é muito mais antigo, e faz parte do nosso rico patrimônio marítimo. Assim, as embarcações pré-históricas foram a primeira ferramenta principal do homem para explorar e conquistar o mundo.

Fonte:

http://www.qucosa.de/…/docume…/21438/diff_fund_26(2016)2.pdf

Por Fábio Henrique

Cientista político, sociólogo, tradutor, escritor.


Fábio perfil

fhsouzasilva@hotmail.com